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Agronegócio: um agente duplo no mercado de carbono

  • Foto do escritor: Felipe Cunha
    Felipe Cunha
  • 24 de fev.
  • 2 min de leitura

A agricultura brasileira desempenha um papel duplo em relação às emissões de gases de efeito estufa. Embora seja a atividade econômica que mais emite, é também a única capaz de remover esses gases da atmosfera durante o processo produtivo. Mensurar o saldo final dessas emissões é um desafio complexo, que inclui calcular a produção e o carbono capturado nas plantações. Essa ambivalência leva à percepção do agronegócio como vilão do clima, embora ele possa ser parte da solução.

uma mão segurando uma saca estampando o nome carbono em frente a uma lavoura

No interior de São Paulo, o Center for Carbon Research in Tropical Agriculture (Ccarbon) da Universidade de São Paulo (USP) busca resolver esse problema. O centro trabalha para medir de forma precisa a pegada de carbono da agropecuária brasileira, incluindo o CO2 capturado no solo. Recentemente, o Ccarbon foi incumbido de fazer o inventário oficial de gases da agropecuária, a ser apresentado pela primeira vez ao governo brasileiro para a ONU, visando alcançar a nova meta de descarbonização.


O Brasil se comprometeu a cortar de 59% a 67% das emissões até 2035, em comparação com os níveis de 2005, e a ser neutro em carbono até 2050. Um passo fundamental para atingir essas metas é zerar o desmatamento, que contribui significativamente para as emissões do país. No entanto, a redução das emissões na agropecuária também será essencial. Com 27% das emissões brasileiras vindo desse setor, o trabalho do Ccarbon em conjunto com a Embrapa e a FGV se torna ainda mais relevante.


A metodologia de cálculo da pegada de carbono desenvolvida pelo Ccarbon visa criar métricas de balanço de carbono e rastreabilidade das emissões na agricultura, pecuária e silvicultura. Este trabalho contribuirá para aprimorar as políticas públicas, incluindo o Inventário Nacional de Gases do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Até o momento, o Brasil apresentou quatro inventários, e a partir de agora, a frequência de entrega será a cada dois anos.


A missão do Ccarbon é desenvolver soluções sustentáveis para a agricultura tropical, focando na redução das emissões de gases e aumento das remoções no solo e vegetação. A agricultura tropical, em especial no Brasil, tem um potencial significativo de menor pegada de carbono devido às suas características específicas de solo e clima. Entre os projetos do centro, destacam-se o desenvolvimento de padrões de taxonomia e medição para as principais culturas do país.


Por fim, o Ccarbon possui um conselho consultivo internacional com dois prêmios Nobel e recebe financiamento da Bayer e da Fapesp. Com uma missão clara e um planejamento robusto, o centro trabalha para organizar informações dispersas e valorizar iniciativas já existentes, com o objetivo de mitigar as mudanças climáticas através de uma agricultura mais sustentável.

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