A retração dos títulos sustentáveis no primeiro semestre de 2025: Desafios, perspectivas e caminhos alternativos
- Felipe Cunha

- 25 de ago.
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O primeiro semestre de 2025 foi marcado por uma queda expressiva nas emissões de títulos sustentáveis, tanto no Brasil quanto no cenário global. A instabilidade geopolítica e as incertezas macroeconômicas influenciaram diretamente os investimentos em projetos de sustentabilidade, tornando o ambiente de captação mais cauteloso. No Brasil, o volume de emissões caiu 65% em relação ao mesmo período de 2024, totalizando US$ 3,3 bilhões, enquanto no mundo a retração foi de 25%, com US$ 440 bilhões emitidos.
A ausência de uma emissão soberana brasileira também contribuiu para esse cenário. Em 2024, o Tesouro Nacional havia emitido US$ 2 bilhões em títulos sustentáveis, mas em 2025 essa operação ainda não ocorreu. Segundo especialistas, o Tesouro aguarda uma janela de oportunidade para lançar um novo bond verde, o que pode reaquecer o mercado no segundo semestre. A expectativa é que a retomada aconteça com mais força, especialmente diante da demanda crescente por ativos sustentáveis por parte de investidores institucionais.

Outro fator relevante é o custo de capital elevado no Brasil, com a taxa básica de juros em 15% ao ano. Esse cenário encarece as operações rotuladas, como os green, social e sustainable bonds, que exigem maior investimento inicial. Apesar disso, especialistas afirmam que a agenda ESG não está desacelerando, mas sim se adaptando a novas formas de financiamento. A Climate Bonds Initiative aponta que a emissão de dívida rotulada no primeiro semestre corresponde a 52% do total de 2024, indicando potencial de recuperação nos próximos meses.
Importante destacar que a queda nas emissões não significa menos recursos para a transição sustentável. Muitos projetos continuam sendo financiados por mecanismos alternativos, como o Eco Invest — programa do governo federal que utiliza blended finance para atrair capital estrangeiro. Além disso, há expectativa de crescimento em segmentos como os bonds da Amazônia e os blue bonds, voltados à preservação de recursos hídricos, que ainda não aparecem nas estatísticas tradicionais de dívida rotulada.
No cenário internacional, mudanças regulatórias também influenciaram o mercado. A União Europeia revisou diretrizes como a CSRD e a CSDDD, enquanto nos Estados Unidos a Regra Federal Climática foi desmantelada. Apesar disso, estados como Nova York e Nova Jersey avançam com exigências próprias. A Fitch aponta que empresas engajadas na emissão de títulos sustentáveis tendem a manter ou ampliar seus compromissos climáticos, reforçando a correlação entre financiamento verde e metas de descarbonização.
Por fim, o mercado de dívida sustentável enfrenta desafios sistêmicos como a falta de padronização de relatórios e preocupações com transparência. A adoção dos padrões ISSB, obrigatórios no Brasil e Chile a partir de 2027, promete maior alinhamento e confiabilidade. O futuro da sustentabilidade financeira passa por inovação, adaptação regulatória e compromisso institucional — elementos que, juntos, podem destravar o potencial transformador dos títulos sustentáveis.




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