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Europa revoluciona a moda: Fast-Fashion será responsabilizada pelo descarte têxtil

  • Foto do escritor: PED Sustentável
    PED Sustentável
  • 6 de out.
  • 3 min de leitura

A União Europeia acaba de aprovar uma legislação histórica que promete transformar radicalmente a indústria da moda. Conhecida como “imposto da economia circular”, a nova norma impõe aos produtores têxteis — de marcas de luxo a marketplaces — a responsabilidade financeira pelo destino final de seus produtos. A medida visa combater o desperdício gerado pelo modelo acelerado da fast-fashion, que evoluiu para o ainda mais agressivo ultra-fast-fashion. A iniciativa é parte do plano europeu de alcançar uma economia circular até 2050, e representa um marco na regulação ambiental do setor.


O cerne da nova legislação é o sistema de Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR), que obriga os fabricantes a arcarem com os custos de coleta, triagem e reciclagem de produtos têxteis. Isso inclui roupas, calçados, cortinas, cobertores e colchões. A proposta, apresentada em 2023, está prestes a ser oficializada e publicada no Diário Oficial da UE. A partir daí, os países do bloco terão até meados de 2027 para implementar suas versões nacionais da norma, com um prazo adicional de um ano para pequenas empresas se adequarem.


A lei também se aplica a empresas que vendem online, mesmo que não estejam sediadas na Europa, o que força gigantes da fast-fashion digital a se alinharem às novas exigências. A Comissão Europeia estima que o bloco gere cerca de 12 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, dos quais apenas 1% é reciclado. Em média, cada europeu compra 19 quilos de roupas por ano e descarta cerca de 12 quilos, que acabam em aterros ou incineradores. O objetivo é frear esse ciclo de consumo e descarte desenfreado.


Governos nacionais terão liberdade para penalizar práticas de fast-fashion e ultra-fast-fashion, vinculando as taxas à pegada ambiental dos produtos. Peças de curta duração, difíceis de reciclar e de fabricação barata poderão ser taxadas mais severamente. Por outro lado, marcas que investem em durabilidade, reparabilidade e design circular poderão se beneficiar com taxas reduzidas. A legislação busca não apenas transferir custos, mas incentivar uma mudança estrutural no modelo de negócios da moda.


O impacto ambiental da indústria têxtil é alarmante. Em 2022, os produtos têxteis europeus emitiram cerca de 355 kg de carbono por pessoa — o equivalente a uma viagem de 1.800 km em um carro a gasolina. Além disso, a produção exige grandes volumes de água e terra: uma camiseta de algodão consome cerca de 2.700 litros de água. A nova legislação segue a lógica do “quem polui, paga”, pressionando as marcas a internalizarem os custos ambientais e adotarem práticas mais sustentáveis.

Aterro sanitário com resíduos de fast fashion

Algumas empresas já estão se movimentando. A Chanel, por exemplo, anunciou a criação de uma plataforma de circularidade para transformar resíduos têxteis em matéria-prima. Especialistas alertam que os novos requisitos trarão custos e desafios operacionais, mas também oportunidades para inovação e diferenciação no mercado. A transição para modelos circulares pode se tornar um diferencial competitivo em um cenário cada vez mais regulado e consciente.


Além da moda, a diretiva europeia também estabelece metas para reduzir o desperdício de alimentos. Até 2030, os países da UE deverão cortar em 30% o desperdício em mercados, restaurantes e lares, e em 10% na indústria alimentícia. Com quase 60 milhões de toneladas de comida indo para o lixo anualmente, a medida reforça o compromisso europeu com a sustentabilidade em múltiplas frentes. A regulação da moda é apenas uma peça de um quebra-cabeça maior que visa redefinir o consumo e a produção no continente.


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