Brasil na rota dos minerais estratégicos: como aliar sustentabilidade com as oportunidades e desafios das terras raras
- PED Sustentável
- 13 de out.
- 3 min de leitura
O Brasil está emergindo como um protagonista global na corrida pelos minerais críticos da transição energética e da revolução tecnológica. Com as segundas maiores reservas de terras raras do mundo, o país atrai atenção internacional por sua capacidade de suprir a crescente demanda por elementos essenciais à produção de carros elétricos, turbinas eólicas, placas solares e chips para inteligência artificial. A afirmação do ministro Fernando Haddad sobre o interesse estratégico dos Estados Unidos reforça a relevância geopolítica do tema, que pode redefinir o equilíbrio de forças nas próximas décadas.
A Serra Verde, única produtora de terras raras em escala fora da Ásia, lidera essa transformação. Localizada em Minaçu (GO), a empresa utiliza um método inovador e mais sustentável de extração a partir de argilas iônicas, que dispensa barragens e reduz impactos ambientais. O processo envolve lavagem com sal de cozinha, gerando uma mistura de elementos como neodímio e disprósio, fundamentais para superímãs e baterias. A operação já exportou centenas de toneladas e planeja atingir sua capacidade total em 2026.

O sucesso da Serra Verde impulsionou uma nova geração de mineradoras juniores, como Meteoric Resources, Aclara, Viridis e Cabo Verde, que investem em pesquisas e plantas-piloto em Minas Gerais e Goiás. Essas empresas, muitas listadas em bolsas internacionais, buscam capital externo e contratos com montadoras globais para viabilizar seus projetos. A expectativa é que o Brasil se torne um polo de produção e refino desses minerais, reduzindo a dependência da China, que hoje domina 90% do processamento mundial.
Apesar do potencial, o setor enfrenta desafios estruturais. O financiamento é um dos principais obstáculos, especialmente para pequenas e médias empresas. O BNDES e a Finep lançaram um programa de até US$ 1 bilhão para apoiar projetos com capacidade de refino local. Além disso, o Serviço Geológico do Brasil precisa de mais recursos para mapear o território nacional, já que apenas 27% está detalhadamente estudado, o que dificulta a atração de investidores e aumenta o risco exploratório.
Outro gargalo é o licenciamento ambiental, considerado lento e fragmentado pelas mineradoras. A falta de integração entre órgãos federais e estaduais, somada às constantes mudanças regulatórias, gera insegurança jurídica e pode atrasar projetos promissores. O Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) defende maior coordenação interinstitucional e processos mais ágeis, sem comprometer a sustentabilidade. A conjuntura atual — marcada por tensões geopolíticas, mudanças climáticas e avanços tecnológicos — coloca o Brasil em posição estratégica para liderar essa nova fronteira mineral.
A exploração das terras raras representa uma oportunidade única para o Brasil se consolidar como fornecedor global de insumos críticos, com responsabilidade ambiental e governança sólida. O momento exige articulação entre governo, setor privado e academia para transformar reservas em desenvolvimento sustentável e protagonismo internacional. A janela está aberta — e o mundo está olhando para nós.
Nesse contexto, é fundamental que o avanço da mineração de terras raras esteja alinhado com práticas sustentáveis e com o cuidado ao meio ambiente. Isso inclui a adoção de tecnologias limpas e processos de extração com menor impacto ambiental, o fortalecimento do licenciamento ambiental com critérios claros e integrados entre os entes federativos, monitoramento contínuo das áreas exploradas e recuperação ambiental após o uso, transparência nas ações das empresas e envolvimento das comunidades locais, o incentivo à pesquisa científica voltada para inovação sustentável e a criação de indicadores de sustentabilidade específicos para o setor de terras raras.
Essas medidas são essenciais para garantir que o desenvolvimento econômico não comprometa os ecossistemas e que o Brasil se destaque como referência em mineração responsável.




Comentários