Produção de insumos virgens em alta: Um alerta à economia circular
- Felipe Cunha

- 4 de ago.
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A busca por um mundo mais sustentável enfrenta um novo desafio: a queda na taxa global de circularidade. Segundo o relatório da Circle Economy Foundation em parceria com a Deloitte, apenas 6,9% dos 106 bilhões de toneladas de matérias-primas utilizadas em 2024 foram recicladas ou reaproveitadas. Esse número representa uma queda em relação aos 7,1% registrados em 2023 e está 2,2 pontos percentuais abaixo do índice de 2018, revelando uma tendência preocupante para os objetivos climáticos globais.

O principal fator por trás dessa redução é o crescimento acelerado da produção de insumos virgens, que passou de 92,8 bilhões de toneladas em 2023 para 98,8 bilhões em 2024. Embora os materiais reaproveitados também tenham aumentado, o crescimento foi tímido: de 7,2 para 7,3 bilhões de toneladas. Essa disparidade mostra que a demanda por insumos provenientes da economia circular não acompanha o ritmo da produção tradicional, o que compromete os esforços rumo à neutralidade de carbono.
Pela primeira vez, o relatório detalha as origens dos insumos fora da cadeia circular. Os estoques empresariais lideram com 38%, seguidos por biomassa neutra em carbono (21,5%), materiais não recicláveis (18,1%) e combustíveis fósseis (13,3%). A Circle Economy Foundation defende que é possível elevar a taxa de circularidade para 25% com estratégias que priorizem o uso de conteúdo reciclado, melhorem a eficiência dos recursos e adotem novos modelos de design, como produtos modulares e reparáveis.
A inovação é apontada como chave para a mudança. Cecília Dall’Acqua, sócia da Deloitte, destaca que os consumidores estão dispostos a apoiar marcas com iniciativas circulares, desde que os produtos ofereçam qualidade superior. A tecnologia tem permitido que produtos reciclados superem os convencionais em desempenho, reforçando que sustentabilidade e excelência podem caminhar juntas.
Para atingir a meta de neutralidade de carbono até 2050, o estudo propõe uma redução no uso total de materiais para cerca de 84 bilhões de toneladas anuais, com uma taxa de circularidade de 17%. Isso poderia cortar até 25 bilhões de toneladas de emissões de carbono até 2030. A produção de insumos secundários consome menos energia, tornando-se uma alternativa viável e eficiente para mitigar os impactos ambientais.
Por fim, o relatório alerta para a desigualdade no consumo global. Países de alta renda consomem, em média, 24 toneladas de materiais por pessoa, enquanto os de baixa renda consomem apenas quatro. A redistribuição equitativa do consumo e o aumento da circularidade são essenciais para garantir que a transição sustentável não comprometa a qualidade de vida, especialmente nos países mais vulneráveis.




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